Ao longo de seus 20 anos de experiência clínica, a psiquiatra americana Anna Lembke observou um aumento no número de pacientes que apresentavam dependência dos medicamentos inicialmente prescritos para tratar dores físicas ou sofrimento mental. Este fenômeno, revelando um grave problema a longo prazo, é parte de uma epidemia de drogas prescritas nos Estados Unidos, com 100 mil overdoses em 2022, impulsionadas principalmente pelo fentanil.
Seu novo livro, “Nação Tarja Preta,” explora as consequências dos atuais modelos de cuidado com a saúde, apontando para questões como o pouco tempo disponível para consultas, o aumento indiscriminado da disponibilidade de medicamentos, a falta de acompanhamento em seu uso, educação deficiente sobre os riscos de dependência e a influência do marketing nas prescrições.
Lembke destaca que a escolha das prescrições muitas vezes não é orientada pela ciência médica, mas sim pela influência da indústria farmacêutica. Ela ressalta a importância de uma análise de custo-benefício ao decidir sobre o uso de medicamentos, considerando os riscos e benefícios ao longo do tempo.
Além disso, Lembke aborda fatores sociais, econômicos e culturais que contribuem para a dependência de substâncias, incluindo a influência da indústria farmacêutica, o acesso fácil a medicamentos não controlados e as disparidades raciais nas prescrições.
Quanto à inteligência artificial (IA) na saúde, Lembke observa que os protocolos de IA podem ser úteis se alimentados com informações relevantes, mas alerta para o risco de uma ferramenta mal concebida piorar a situação.
Ela destaca a importância de sistemas de tratamento de saúde que priorizem a saúde a longo prazo, incluindo mais tempo para diálogo e educação entre médicos e pacientes.
Lembke também discute a necessidade de uma abordagem mais ampla da saúde mental, incluindo fatores sociais, econômicos e ambientais, e ressalta a importância de dosar acessibilidade e conscientização para combater o estigma em torno do uso de medicamentos.
Por fim, ao abordar o uso da cannabis e medicamentos psicodélicos para saúde mental, Lembke destaca a falta de evidências confiáveis e recomendação cautelosa até que haja mais dados sobre segurança e eficácia.