A maior análise de sequenciamento genético sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA) foi publicada no periódico Cell, em novembro. Os pesquisadores do Hospital For Sick Children encontraram 134 genes ligados ao autismo, analisando 20 mil dados genéticos. O estudo apontou que, dos 20 mil genomas analisados, sete mil eram de indivíduos autistas e os outros 13 mil eram de irmãos e familiares das pessoas com TEA. A extração dos genes foi feita no MSSNG, o banco de dados com o maior conjunto de genoma completo de autismo do mundo. A análise usou a técnica de sequenciamento completo do genoma (WGS) e, a partir dela, foram encontrados mais de 130 genes ligados ao transtorno.
A PHD em neurociência, psicanalista, psicopedagoga e organizadora do Congresso Internacional Brain Connection, Ângela Mathylde Soares, explica que o autismo é uma condição neurológica com dificuldades para a comunicação verbal e não verbal, comportamento repetitivo e dificuldades em aceitar mudanças na rotina. O transtorno pode ser descrito como uma síndrome comportamental complexa e quem possui apresenta uma grande variabilidade na intensidade e na forma de expressão em relação aos sintomas, sendo que, geralmente, os primeiros sinais surgem ainda na primeira infância.
Ela destaca que é consenso na comunidade científica que os sintomas do transtorno podem estar presentes desde o nascimento, ou aparecer em algum momento, antes dos três anos de idade, mesmo entre crianças com um desenvolvimento aparentemente normal. As primeiras descrições sobre autismo têm mais de 40 anos, mas felizmente, cada vez mais, as pesquisas estão próximas de diagnósticos precisos e tratamentos eficazes, contudo, mesmo assim, ainda falta muito para se descobrir sobre esse universo.
Para se ter uma ideia, até a década de 60, diversos especialistas acreditavam que o autismo estava relacionado à ausência de afeto dos pais pela criança. A partir da década de 70, o avanço dos estudos em psiquiatria e psicologia permitiu defender causas multifatoriais para o autismo, destacando as funções neurobiológicas.
Ângela afirma que, devido à heterogeneidade encontrada no espectro, o grau de gravidade varia, desde pessoas com um quadro leve, com total independência e leves dificuldades de adaptação, até àquelas pessoas dependentes para as atividades diárias ao longo de toda a vida. “O TEA deve ser mais divulgado e discutido junto à população, em especial os pais, para que saibam identificar os sintomas e buscarem ajuda e um tratamento adequado o mais rápido possível. É essencial que crianças e adultos autistas se sintam acolhidos e respeitados em seu ambiente familiar, escolar e profissional para se desenvolverem”, alerta.
O tema ainda é muito complexo, demandando a continuação de pesquisas, sendo que foi um dos destaques na sétima edição do Brain Connection com o tema “O mundo pela inclusão: diversos olhares sob o mesmo cérebro”, realizado na última semana de novembro, em Belo Horizonte. A programação desse evento híbrido foi acompanhada por mais de 80 mil pessoas, assistindo às palestras com mais de 300 especialistas, envolvidos com esse movimento mundial pela inclusão como um tradicional espaço para o diálogo entre pesquisadores, acadêmicos, professores, profissionais e comunidade na abordagem de diversas temáticas relacionadas à neurociência aplicada ao saber educacional.