A frase “Se você quer a paz, prepare-se para a guerra” é atribuída ao escritor romano Vegetius, que viveu no século IV. Ela significa que, para evitar ou vencer uma guerra, é preciso estar bem preparado e armado. Mas será que essa frase se aplica apenas ao contexto militar? Ou podemos usá-la para entender e lidar com os conflitos que enfrentamos na vida?
Os conflitos são absolutamente normais e inevitáveis na vida. Eles surgem quando há divergências, interesses opostos, necessidades insatisfeitas, expectativas frustradas, sentimentos feridos, valores diferentes, etc. Os conflitos podem ocorrer em diversos âmbitos, como familiar, profissional, social, político, religioso, etc. Eles podem ser fontes de aprendizado, crescimento, mudança, inovação, mas também de violência, destruição, sofrimento, ódio.
Como podemos então lidar com os conflitos de forma mais positiva e perspectiva? Como podemos buscar a paz sem recorrer à guerra? A resposta está na forma como nos preparamos para enfrentar os nossos problemas. Preparar-se para a guerra não significa apenas se armar de armas, mas também de conhecimento, habilidades, estratégias, recursos, aliados, etc. Preparar-se para a paz significa desenvolver a capacidade de compreender, dialogar, negociar, cooperar, resolver, transformar os conflitos.
O primeiro passo para se preparar para a paz é o diálogo interno. É preciso reconhecer e aceitar as nossas emoções, pensamentos, valores, crenças, necessidades, interesses, etc. É preciso também analisar e questionar as nossas percepções, preconceitos, julgamentos, expectativas, etc. É preciso ainda buscar o autoconhecimento, o autocontrole, a autoestima, a autoconfiança, a autocrítica, a autoresponsabilidade, etc.
O segundo passo para se preparar para a paz é o diálogo com o outro. É preciso respeitar e valorizar as diferenças, as diversidades, as singularidades, as pluralidades, etc. É preciso também escutar e compreender as emoções, pensamentos, valores, crenças, necessidades, interesses, etc. do outro. É preciso ainda buscar a empatia, a simpatia, a solidariedade, a generosidade, a tolerância, a flexibilidade, etc.
O terceiro passo para se preparar para a paz é o diálogo para a solução. É preciso identificar e definir o problema, os objetivos, os critérios, as alternativas, etc. É preciso também avaliar e comparar as vantagens, desvantagens, custos, benefícios, riscos, oportunidades, etc. É preciso ainda buscar o consenso, o acordo, o compromisso, a cooperação, a satisfação, a melhoria, etc.
Esses passos podem ser mais fáceis com a ajuda de alguém que seja um facilitador do diálogo, que é o que chamamos de mediador, um profissional capacitado, com diversas técnicas e que em sua atuação oportoniza o protagonismo dos sujeitos em conflito. Ele é uma pessoa que não toma partido, que respeita a privacidade, que incentiva a cooperação, que estimula a criatividade, que quer ver as pessoas se entendendo e se acertando. Ele é uma pessoa que entende que os conflitos doem, mas que também podem ser oportunidades de mudança na relação. Ele é uma pessoa que valoriza as histórias, as experiências, as vivências de cada um, mas que também incentiva a vontade, a atitude, a ação de cada um. Ele é uma pessoa que pode auxiliar este encontro.
Então, “se você quer a paz, prepare-se para a guerra”, mas não a de armas, de violência, de destruição e, sim, para o enfrentamento ressignificado através do diálogo construtivo, de paz através das propostas e proposições, de construção da alegria e harmonia, de amor e respeito as individualidades do seu próximo. Prepare-se para a guerra/enfrentamento que vale a pena lutar/enfrentar. Prepare-se para a guerra que ao final virá a paz tão almejada.
Finalizo com célebre frase de Philippa Perry que sugere, “o problema é se não fizermos novos passos para tentar um novo desafio, nossa zona de conforto não parece apenas ficar parada, mas também retraída.”
Assim, para nos libertarmos dos problemas que nos afligem, precisamos sair da nossa zona de conforto e buscar novas formas de enfrentar as situações. Precisamos trabalhar internamente, desenvolvendo nossa capacidade de mudança, e externamente, buscando novas oportunidades de aprendizado e crescimento. Assim, podemos encontrar a paz que tanto desejamos.