Corpus Christi: O milagre da transubstanciação em celebração

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Há setecentos e sessenta anos celebra-se a data de Corpus Christi uma data que a Igreja Católica comemora o Santíssimo Sacramento da Eucaristia em diversos países de tradição europeia, inclusive o Brasil como ex-colônia portuguesa.

Este é o único dia do ano em que o Santíssimo Sacramento sai em procissão pelas ruas, que teve origem em Liége, na Bélgica, no século XII, por meio de um movimento eucarístico na Abadia de Cornillon, fundada em 1124 pelo Bispo Albero de Liége.

Santa Juliana de Monte Cornillon, conhecida como Juliana de Liége, superiora da Abadia na época, foi a enviada de Deus para propiciar esta maravilhosa procissão festiva de Corpus Christi. Ela sempre teve uma grande veneração ao Santíssimo Sacramento e esperava que tivesse uma festa especial em sua honra, por este ser um desejo, que se diz ter intensificado por uma visão que teve da Igreja sob a aparência de lua cheia com uma mancha negra e significava a ausência dessa solenidade.

A procissão de Corpus Christi tem um sentido muito profundo para os cristãos católicos, pois representa a caminhada do povo de Deus, em busca da vida eterna. Além disso, é uma expressão da fé e uma forma de evangelização. A Solenidade de Corpus Christi é marcada onde o Santíssimo Sacramento é levado, normalmente pelo sacerdote, para percorrer as ruas na companhia dos fiéis. Nessa perspectiva, os tapetes confeccionados com os diversos tipos de materiais formam o caminho a ser percorrido pelo povo de Deus reverenciando Jesus.

Em 1263 o Pedro de Praga, um padre que carregava uma enorme culpa por duvidar sobre a presença de Cristo na Eucaristia e em um dia em peregrinação em Roma rogou sobre o túmulo de São Pedro uma graça de fé e ao regressar, enquanto celebrava a Santa Missa em Bolsena, na cripta de Santa Cristina, a Sagrada Hóstia verteu-se de sangue, manchando seu corporal – pano onde se apoiam o cálice e a patena durante a Missa – com o preciosíssimo sangue que até os dias de hoje na Basílica de Saint Christina, em Bolsena, Itália encontra-se exposto aos peregrinos.

A notícia chegou rapidamente ao Papa Urbano IV, que estava muito perto de Orvieto e as Sagradas Espécies foram recebidas e inspecionadas por São Tomás de Aquino e também pelo referido Papa.

A venerada relíquia foi levada em procissão e diz que o Pontífice, ao ver o milagre, ajoelhou-se diante do corporal e, em seguida, o mostrou à população. Mais tarde, o Santo Padre publicou a bula “Transiturus”, com a qual ordenou que fosse celebrada a Solenidade de Corpus Christi em toda a Igreja na quinta-feira depois do domingo da Santíssima Trindade, sessenta dias após a Páscoa. Portanto, a peregrinação de Padre Pedro de Praga e o milagre que ocorreu em Bolsena foram eventos importantes que levaram à instituição da Solenidade de Corpus Christi.

O Papa decidiu estender a Festa do Corpo de Cristo, que até o momento compreendia somente a Diocese de Liege, para toda a Igreja universal. Portanto, o Milagre de Bolsena foi um evento importante que levou à instituição da Solenidade de Corpus Christi.

A procissão eucarística ocorre após a Santa Missa e foi estabelecida como um meio para obter indulgência pelos Papas Martinho V e Eugênio IV. Tornou-se comum desde o século XIV para destinar toda honra e glória a Jesus presente na Eucaristia. É importante recordar também que foi no Concílio de Trento, no ano de 1500, que a Igreja declarou: “seja celebrado este excelso e venerável sacramento com singular veneração e solenidade; e reverente e honradamente seja levado em procissão pelas ruas e lugares públicos”.

São Tomás de Aquino, um dos mais influentes filósofos e teólogos da Idade Média que examinou o corporal do Padre Pedro de Praga, teve uma relação significativa com o sentido teológico do Corpus Christi que conceituou e definiu o sacramento da comunhão, onde os fiéis acreditam que o pão e o vinho se transformam no corpo e no sangue de Cristo.
A doutrina da transubstanciação, que afirma essa transformação da hóstia sagrada em sangue, foi formulada e desenvolvida por São Tomás de Aquino. Ele elaborou uma explicação teológica detalhada sobre a presença real de Cristo na Eucaristia, que é a crença de que o corpo e o sangue de Cristo estão realmente presentes no pão e no vinho consagrados durante a Missa.

Em sua obra mais famosa, a “Summa Theologiae”, São Tomás discute amplamente a natureza da Eucaristia e a relação entre o sacramento e a presença de Cristo. Ele argumentou que, embora os sentidos físicos percebam apenas o pão e o vinho, a substância real é transformada em corpo e sangue de Cristo, enquanto a aparência, o cheiro e o sabor permanecem os mesmos.

Através da doutrina da transubstanciação, as palavras de Jesus na Última Ceia “Isto é o meu corpo” são consideradas literalmente verdadeiras pelos católicos e Corpus Christi é uma ocasião especial para adorar e honrar o sacramento da Eucaristia.

Embora São Tomás de Aquino tenha contribuído significativamente para o desenvolvimento teológico do sentido da Eucaristia e da festa de Corpus Christi é importante notar que a celebração da festa em si é uma tradição da Igreja Católica e tem evoluído ao longo dos séculos, incorporando elementos litúrgicos e culturais adicionais além de suas contribuições. Nesta festa, os fiéis agradecem e louvam a Deus pelo inestimável dom da Eucaristia, na qual o próprio Senhor se faz presente como alimento e remédio de nossa alma. A Eucaristia é fonte e centro de toda a vida cristã, nela está contido todo o tesouro espiritual da Igreja, o próprio Cristo. É um momento de reflexão e adoração ao Santíssimo Sacramento.

Neste sentido remete a célebre frase de São Tomás de Aquino, em sua obra Summa Theologiae, que relembra da importância da consciência Crística do sacramento: “A Eucaristia é a plenitude da presença divina, o encontro entre o céu e a terra, onde o amor de Cristo se torna alimento para nossas almas famintas.”