Nas últimas semanas, a tônica das relações humanas, recaiu no ambiente escolar. Foram semanas que, por acontecimentos lamentáveis, ficarão na memória de uma população já enlutada pelos vários cenários de crise que atingiram seus principais atores: professores e alunos. Vimos diariamente no ambiente escolar a escalada dos conflitos entre alunos; professores e alunos; pais e professores; entre professores e gestores e terceiros. Engana-se que essas são situações isoladas, não são.
Iniciamos a narrativa dos tristes fatos, com o episódio das jovens universitárias zombando de uma colega de turma, evidenciando o preconceito de idade (etarismo), a partir dos quarenta anos.
Essa semana o episódio da escola de São Paulo, que em um dia normal de aula, um estudante adentra a escola, ataca mortalmente uma professora e fere outra docente, não obtendo êxito em seu intento fatal, graças à uma professora heroína que conteve o adolescente impedindo que o mesmo produzisse o resultado que pretendia.
Ao ouvir o depoimento da professora, vítima da lesão corporal, que “sentiu que morreria, pois quando isso acontece sempre alguém morre, e essa poderia ser eu”, causou grande impacto, pois, quantas situações de violência física e mental, bullying, preconceito e etc., precisaremos vivenciar para entendermos à importância da mediação de conflitos na escola? É necessária uma grande reflexão quanto ao modelo, debater, dialogar e incorporar às práticas de gestão de conflitos em todos os níveis de ensino, desde o fundamental até o universitário, no sentido de reforçar medidas de prevenção a fim de evitar a violência no ambiente escolar e o acolhimento em situações de conflitos.
Terminamos com o episódio da aluna Vitória, órfã de 11 anos, portadora de transtorno do espectro autista que sofreu bullying na escola no Rio de Janeiro praticado por grupo de meninas que zombava de seu penteado e quando a vítima vai às lágrimas, ainda foi intimidada com um sonoro: “Vai chorar?”
Amanhã se comemora o Dia Mundial de Conscientização do Autismo e este fato ilustra a importância da inclusão que deve começar em casa e se espraia pela sociedade como um todo. O preconceito é real e atinge além dos portadores, seus pais e cuidadores.
Um estudo de meta-análise publicado no Yonsei Medical Journal, em 2020, que investigou a prevalência, os ricos e fatores associados ao bullying envolvendo estudantes autistas, o risco é 2,4 vezes maior para o portador de transtorno do espectro autista (TEA) que para o típico e 2 vezes maior frente a alunos portadores de outras deficiências, talvez por sua “invisibilidade”. O estudo também teve foco no adulto autista e reportou que esse apresentou alto nível de ansiedade e 45% reportou sequelas de bullying na infância.
A Base Nacional Comum Curricular trata da empatia e cooperação em sua nona competência, mas será que tais princípios fazem parte do cotidiano da escola? É preciso repensar o modelo e incluir na formação de professores as técnicas de mediação de conflitos. É preciso investir na constante capacitação dos professores a fim de identificar e agir antes que o conflito atinja seu ápice. São multifatores que devem ser discutidos, mas o mais premente é a capacitação dos profissionais voltados a gestão de conflitos.
E o que esses episódios nos deixam de lição? Que a mediação de conflitos não é só necessária, mas também urgente. É certo que vivemos tempos de crises, sem precedentes, no ambiente educacional e essa situação se agrava pela ausência de um olhar para a gestão de conflitos. O ponto em comum de todos os episódios é que agressores devem ter consciência do mal que fizeram, pois humilhar e agredir é coisa séria, mas esta consciência não deve ser despertada pelo que é errado, nem da sua punição, pois essas práticas se perpetuarão de outras formas, mas pela consciência de que essas práticas violentas fogem a regra da civilidade, que traz no senso de comunidade sadia, onde o acolhimento e respeito ao próximo deve prevalecer.
Por esses episódios, peço às vítimas que recebam todo nosso amor, que se sintam acolhidas por nós e pela comunidade escolar. Rogo que não virem o rosto a esses episódios, que não banalizem o bullying, o preconceito de idade, a violência, mas também peço que não reajam com ódio e que sejamos capazes de darmos passos à frente na construção de uma cultura de paz e não mais darmos passos para trás. Nas palavras de Chico Xavier que me inspiro: “Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim.”
Paz e Amor a todos!