O desenvolvimento de mísseis balísticos intercontinentais (ICBM) carregados com ogivas nucleares, capazes de viajar em altíssimas velocidades e destruir cidades inteiras, a partir de bases secretas, gerou a necessidade de sistemas de defesa antimíssil. Essa demanda surgiu a partir dos anos 1960, especialmente durante a crise dos mísseis de Cuba, quando líderes norte-americanos e soviéticos perceberam o poder da expressão “apertar o botão” para ameaçar acionar seus arsenais nucleares e destruir o inimigo.
Essa constante tensão impulsionou o desenvolvimento de sistemas de defesa extremamente complexos. Tais sistemas precisavam combinar a identificação de objetos em voo, radares poderosos e satélites para proteger vastos territórios continentais, além de garantir comunicações seguras e armas de defesa para interceptar possíveis ICBMs inimigos.
A chave para tornar tais empreendimentos eficazes foi a criação de monitores interativos de computador, pois os radares forneciam uma quantidade de informações que era praticamente impossível de ser processada por seres humanos. Lev Manovich, teórico da cultura digital e professor de ciência da computação, explica que o design desses aparelhos e os programas exibidos neles tinham que mostrar com precisão a trajetória de mísseis inimigos, receber ordens de oficiais humanos e integrar todas essas operações a outros terminais de computador semelhantes.
Assim, surgiram telas que produziam ícones com varredura sequencial, onde diferentes partes da imagem representavam diferentes momentos no tempo. Essa imagem e a interface que permitiu aos humanos interpretar e operar máquinas e sistemas complexos desempenharam um papel fundamental na Guerra Fria.
Um dos maiores projetos nessa área foi o sistema Sage (Sistema de Defesa Aérea Semiautomático Terrestre). Ele consistia em computadores gigantes com cerca de 2.000 metros quadrados, que recebiam informações de radares e mantinham as forças de mísseis em estado de prontidão. O Sage foi o maior programa de computador de sua época e foi desenvolvido por 7.000 engenheiros da IBM, a International Business Machines Corporation. Ele se tornou operacional no final dos anos 1950, pouco depois do primeiro teste nuclear soviético, e estima-se que tenha custado mais do que o Projeto Manhattan, que desenvolveu as primeiras armas nucleares.
No entanto, o destaque desse sistema eram as telas, que permitiam que comandos fossem dados diretamente através de monitores CRT (tubos de raios catódicos) usando canetas de luz. Essas telas brilhantes e gigantes, constantemente atualizadas em salas fechadas, inspiraram muito da estética da Guerra Fria e até apareceram em filmes, como “Dr. Fantástico” (1964).
As interfaces e telas criadas para o sistema Sage foram os precursores dos dispositivos atuais, como celulares, videogames e softwares modernos que integram humanos e máquinas. Elas se espalharam por todo o mundo, da mesma forma que a computação pessoal e os jogos de fliperama, e formam a base das interfaces e da “experiência do usuário” nas redes sociais contemporâneas.
Esses sistemas militares foram projetados para manter operadores em estado constante de alerta, em uma série de tarefas que culminaram em uma “experiência generalizada de ansiedade.” A rotina de um operador do Sage tinha semelhanças com a de um trabalhador de escritório moderno, sempre submetido a sistemas que exigem atenção constante e imediata.
Essa transição das tecnologias de defesa aérea da Guerra Fria para a computação multimídia nas casas e escritórios moldou a maneira como interagimos com a tecnologia atualmente, com notificações, sistemas de som e informações visuais constantemente competindo por nossa atenção.