Ronda na sociedade um grande perigo que nos pode cegar: entender os fatos sociais sob uma ótica subjetiva.
Fala-se demasiadamente sobre os acontecimentos da sociedade e em muitos casos, opta-se por analisar as coisas de um ponto de vista particular, sem ao menos fazer relações com a história, cultura, enfim, dedicar-se à totalidade.
Estas análises, aem grande medida personalizadas tem como único objetivo colocar só sujeito no foco da atenção, desconsiderando três blocos importantes: 1) o uso da razão dialética – ou seja, racionalidade que leva em consideração o complexo de contradições, 2) o uso da história para compreensão dos fenômenos, 3) o humanismo, que em pleno século XXI as pessoas estão fincadas naquilo que eu chamo de bloco do eu sozinho.
Estes três itens começaram a perder espaço na sociedade desde que a filosofia em meados do século XIX começou a descambar desde que o filósofo alemão Hegel perdeu o sentido pra as gerações anteriores. Mas porque isso ocorreu?
Como sabem, as ideias não caem do amada, elas são resultados da sociedade e de seu modo de produção inseridos naquele contexto.
Desde que o capitalismo ganhou força, seus representantes começaram desenvolver ideias que se encaixaram como uma luva. O exemplo mais claro disse foi o uso de filosofias que decretam o fim das grandes narrativas, ou seja, o fim daqueles três itens que coloquei antes. Mas de que maneira isso influência os dias atuais? É possível ver isso no cotidiano?
Mas claro!
O primeiro item que gostaria de destacar e que é claro na sociedade é a relativização da verdade. Esta noção tornou-se subjetiva e as análises partem de uma certa intuição, aquilo que o velho Platão chamava de doxa, ou seja, opinião.
Tudo é questão de ponto de vista! Pelo menos é assim hoje. E nas redes sociais isso se intensificar ainda mais.
Com a destruição da história e o avanço da doxa, impera o reino subjetivo; variedades de verdades, como se entender a realidade e o mundo que nos cerca fosse baseado em opiniões. É justamente essa opinião que cega grande parte das pessoas a se manterem no reino da doxa.
Por fim, com a destruição do humanismo, colocou-se em seu lugar fatos mitológicos, narrativas que buscam outras construções baseadas em coisas que não estão calcadas na realidade e cujo sentido, o homem não está mais no centro da discussão. Como há o império do bloco do eu sozinho, impera o relativismo também.
Com o avanço de uma ideologia que prega o homem descabido de qualquer alteridade, cujo objetivo é o alcance constante de metas, confunde-se a vida como se fosse uma meta constante. Não há espaço para formação do espírito, há apenas a busca incessante por resultados.
O homem tornou-se responsável por si mesmo. Abandonado por todos, resta carregar o peso do mundo todos os dias e não há ninguém ao seu lado.
A morte de Deus anunciada por Nietzsche, porque o homem não leva mais em consideração suas palavras e seus ensinamentos é resultado deste avanço de irracionalismo, cujo resultado é o que vemos exatamente hoje.
- Todos contra todos e ninguém por ninguém.