O filósofo romano Sêneca, que viveu no século I d.C., deixou uma lição valiosa para os tempos atuais: “Dois elementos devem ser erradicados de uma vez por todas: o medo do sofrimento futuro e a lembrança do sofrimento passado; já que este último não me preocupa mais, o primeiro não me preocupa ainda.”
Essa frase resume a ideia de que devemos viver no presente, sem nos deixar abater pelo que já passou ou pelo que ainda pode acontecer. Mas como fazer isso na prática, quando enfrentamos situações de estresse, ansiedade, angústia e conflito?
Uma possível resposta está na interdisciplinaridade entre a psicanálise e a mediação de conflitos, duas áreas que se complementam e se enriquecem mutuamente. A psicanálise é uma teoria e uma prática que busca compreender e tratar os problemas psíquicos dos indivíduos, levando em conta a sua história, os seus desejos, os seus traumas e os seus conflitos internos. A mediação de conflitos é um método de resolução pacífica de disputas, que envolve a participação de um terceiro imparcial, que facilita o diálogo e a negociação entre as partes envolvidas.
Segundo a psicanalista e mediadora de conflitos Maria Clara Dias, a interdisciplinaridade entre essas duas áreas permite uma abordagem mais ampla e profunda dos conflitos, tanto os internos quanto os externos. “A psicanálise ajuda a entender as motivações inconscientes que geram os conflitos, e a mediação de conflitos ajuda a transformar os conflitos em oportunidades de aprendizado, crescimento e mudança”, explica.
Dias afirma que o medo e o sofrimento são emoções naturais e inevitáveis, mas que podem ser trabalhados e superados com o auxílio de um profissional qualificado. “O medo é uma reação de defesa diante de uma ameaça real ou imaginária, e o sofrimento é uma resposta à perda ou à frustração de algo que valorizamos. Essas emoções podem nos paralisar ou nos impulsionar, dependendo de como lidamos com elas”, diz.
Ela sugere algumas dicas para enfrentar o medo e o sofrimento, baseadas na citação de Sêneca:
– Não se apegue ao passado nem se preocupe excessivamente com o futuro. Foque no que você pode fazer no presente, com os recursos que você tem.
– Não se isole nem se feche em si mesmo. Busque o apoio e a compreensão de pessoas que você confia, e que possam te ouvir e te acolher.
– Não se culpe nem se vitimize. Reconheça os seus erros, mas também os seus acertos, e aprenda com eles. Perdoe-se e perdoe os outros, e liberte-se de ressentimentos e mágoas.
– Não se acomode, nem se conforme. Busque novos desafios, projetos e sonhos, que te motivem e te façam crescer. Saia da sua zona de conforto e explore novas possibilidades.
– Não se subestime nem se superestime. Conheça os seus limites, mas também as suas potencialidades, e desenvolva as suas habilidades e competências. Valorize os seus pontos fortes e melhore os seus pontos fracos.
Dias ressalta que essas dicas não substituem a necessidade de um acompanhamento profissional, que pode ser feito tanto pela psicanálise quanto pela mediação de conflitos, ou pela combinação das duas. “O importante é buscar ajuda quando se sentir sobrecarregado, e não ter vergonha nem medo de pedir socorro. A psicanálise e a mediação de conflitos são ferramentas poderosas para nos ajudar a superar o medo e o sofrimento, e a viver de forma mais plena e feliz”, conclui.