A Polícia Federal (PF) está investigando o suposto uso de um software de espionagem pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Conforme a investigação, agentes da Abin teriam utilizado ilegalmente a ferramenta, conhecida como FirstMile, durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. O software, desenvolvido pela empresa israelense Cognyte, é o foco da operação Última Milha, que levou à prisão de dois oficiais e ao afastamento de cinco dirigentes da Abin.
Segundo a PF, o FirstMile teria sido usado para monitorar ilegalmente membros do Supremo Tribunal Federal (STF), jornalistas, advogados e políticos. Embora tenha sido adquirido sem licitação durante o governo Michel Temer, a ferramenta teria sido mais intensivamente utilizada durante o governo Bolsonaro, segundo as investigações.
A polícia alega que o monitoramento realizado com o FirstMile seria ilegal, pois os agentes necessitariam de autorização judicial para conduzi-lo. Os investigados podem enfrentar acusações como invasão de dispositivo informático, organização criminosa e interceptação de comunicações sem autorização judicial.
A Abin, por meio de nota, afirmou que a corregedoria da agência iniciou uma sindicância investigativa sobre o assunto, repassando as informações apuradas à Polícia Federal e ao STF. A agência também informou que o FirstMile deixou de ser utilizado em maio de 2021.
O software FirstMile é capaz de monitorar a geolocalização de até 10 mil celulares por um ano, sem acessar mensagens ou ligações. Especialistas explicam que a ferramenta interfere no protocolo SS7, que envia informações das antenas de celular para as operadoras, e posteriormente, armazena e analisa esses dados. O uso desse tipo de software levanta preocupações sobre privacidade e potenciais abusos, podendo ser utilizado indevidamente contra opositores políticos e a população em geral.
A Cognyte, empresa israelense responsável pelo desenvolvimento do FirstMile, teve seus serviços utilizados pelo governo do Sudão para perseguir opositores, conforme relatório da Anistia Internacional de 2021. Em março, a ONG Data Privacy Brasil solicitou ao Ministério Público Federal que investigasse o uso do FirstMile pela Abin, alegando violação dos direitos fundamentais à proteção de dados pessoais.