Um AVC na História da Elzinha
Karen Crosara Horta
NEUROPSICÓLOGA, psicóloga neurociência cognitiva, sócia fundadora e Neuropsicóloga da Neuroclinic, coordenadora e neuropsicóloga da Clínica Aprendizagem e Companhia, pesquisadora Grupo de Investigação Clinica em Saúde e Educação da União Européia, doutoranda em Neuropsicologia da Infância pela EBWU- Flórida USA.
Existem pessoas bem humoradas, que conseguem levar a vida suavemente e as mal humoradas. Elzinha é uma pessoa do bem e bem humorada, formada em Direito, bem sucedida, mãe de duas crianças. Em uma noite, após o trabalho, assistindo TV começou a se sentir mal, seu filho foi buscar um copo de água para ela e ao retornar Elzinha estava desacordada. Uma bomba caiu sobre a família. Elzinha acabara de sofrer um AVC!
Acidente vascular cerebral ou AVC, popularmente chamado de derrame, acontece quando uma artéria cerebral está obstruída e falta oxigenação numa determina área cerebral (AVC isquêmico), ou quando há um sangramento devido a um rompimento de um vaso sanguíneo (AVC hemorrágico), esse é o mais comum de ocorrer, ou ainda quando uma artéria fica obstruída por um período que pode ser de minutos ou horas e assim que desobstrui os sintomas sofrem reminiscência (ataque isquêmico transitório). Os sinais acontecem conforme a área do cérebro que foi afetada. As manifestações podem ocorrer como face, na força muscular, na visão, na fala, dor de cabeça, podendo surgir isoladamente ou combinada.
As seqüelas também dependem da área afetada, do estado de saúde da pessoa e principalmente pelo tempo de inicio de tratamento que, quanto menor, menores serão as seqüelas.
E esse foi o caso da Elzinha. Atendimento rápido com especialista, e depois multidisciplinar, ou seja, Fonoaudiologia, Fisioterapia, Terapia Ocupacional, psicoterapia.
Elzinha sempre quis que sua história fosse contada por alguém, uma vez que como seqüela, perdeu sua escrita e leitura. Ela espera com isso que a população em geral tenha conhecimento de sua experiência.
Elzinha perdeu a fala, as únicas palavras que ela conseguia produzir era “outrem”. Essa era a resposta a qualquer pergunta que lhe era feita ou quando queria dizer algo. Seu pai (Antônio) sempre lhe deu suporte. Um dia ela quis levar café para uma visita, mas devido a sua fraqueza motora desequilibrou e deixou derramar o café sobre a visita, quando então começou a rir, tinha achado engraçada a situação. Dr. Antônio então disse “não repare, ela não sabe o que está acontecendo”, porém ela sabia, só não conseguia se expressar. Esse relato é importante, pois tem-se a impressão de que esses pacientes, com quadros de AVC, não têm consciência do que ocorre ao seu redor, em seu ambiente, o que mostra, em alguns casos, não ser uma realidade (atenção cuidadores!!!!).
Foram anos de trabalho intenso. Como resultado teve a fala de volta, mas de forma pausada, por vezes não consegue encontrar a palavra certa a ser dita. Retomou a força muscular e resolveu que deveria voltar a ter sua própria casa. Voltou para uma escola noturna onde reaprendeu a ler e a escrever, porém com maior dificuldade na interpretação de leitura de livros ou textos maiores, assim como não consegue escrever algo mais complexo.
Sinceramente, mulher determinada e de muita fibra.