O episódio de discriminação etária de universitárias à luz da mediação de conflitos

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Recentemente vimos um vídeo viralizar nas redes sociais de jovens adultas universitárias criticando uma colega que aos seus 40 anos estaria estudando na mesma classe. Acompanhei diversas discussões de internautas, autores, especialistas, mas duas me chamaram a atenção a qual passo a discorrer sobre elas.

A primeira foi de um especialista em Longevidade que nos trouxe uma visão que faz parte do mundo corporativo e fora dele. Afirma o consultor que, o etarismo contra maduros começa aos 40 anos. Entre as ironias dessas jovens estão frases como: “aos 40 já deveria estar aposentada” e “com 40 anos não pode mais fazer faculdade”. Um forte indicativo de que há pouco entendimento por parte de vários jovens sobre o que é exatamente uma pessoa madura nos dias de hoje. E de quem é a responsabilidade por episódios como esse? Ele é resultado de vários fatores. Afirma este especialista que vivemos em uma sociedade “jovem-egocêntrica”, que adora divinizar jovens, especialmente no mercado de trabalho, por pensar que só os jovens estão na vanguarda da tecnologia, por serem mais estimulados no mundo tecnológico, só que não é bem assim. Sou prova disso, pois me tornei uma cientista de dados após os 40 anos de idade, diga-se de passagem.

E os pais dessas jovens, têm culpa neste episódio? Afirma o especialista, que em parte sim. Ficou nítido que faltou “a educação que vem de casa”, pois jovens adultas, da Geração Z, as que já estão na faculdade, deveriam saber que pessoas com mais de 40 anos não são “velhinhos que deveriam se aposentar”, seja pelo preconceito e por impropriedade técnica relativa ao Direito Previdenciário que mulheres se aposentam após 62 anos e se comprovar tempo específico de contribuição. Mas não vamos nos ater a questão jurídica e prosseguimos com a construção da ideia do consultor que nos esclarece, boa parte dos jovens dessa geração foi educada por youtubers, e não por seus pais e só por isso pode ser entendida como uma geração perdida? Não, afirma o especialista, primeiro por não gostar de generalizações e por conhecer vários jovens das gerações Z e Y (Millenials) extremamente responsáveis, inteligentes, antenados, por isso não dá pra generalizar. Não obstante, esse episódio das universitárias é mais um exemplo claro de que precisa “reeducar” muitos jovens por aí, sugerindo que para essa transformação acontecer em relação ao combate ao etarismo deveria se tornar em disciplina de sala de aula no colégio e, pelo visto, também na faculdade e também uma forte conscientização da população.

A segunda opinião foi de um Juiz de Direito que nos dá uma lição de respeito ao próximo, que faltou a essas jovens, mas, e, principalmente a nós para nos abster do julgamento a elas. Suas considerações oportunas foram: Não destruam a vida dessas jovens, elas devem perceber que fizeram errado e advertidas para oportunizar a mudança de pensamento, mas não ser alvo de opiniões destruidoras. A partir da visão preconceituosa dessas jovens, devemos analisar as nossas próprias opiniões e como reagimos a quem tem uma atitude dessas. No dia a dia é comum pensar ou zombar do gordinho/magrinho que vai a academia; do muito alto/baixo; do que fala com sotaque estranho; do idoso ativo que deveria se vestir “de acordo com sua idade”, que deveria fazer atividades “condizente com sua idade”, etc. Respeitar a individualidade, desde que não insanidade e canalhice, é enxergar a beleza da pluralidade. E, por fim este autor adverte que devemos ter cuidado ao acreditar que “todo diferente é bom”. Não sejamos inocentes, nem bobos, mas sejamos bons, com uma mente crítica experenciada e na ausência dela, absorva de quem tem mais experiência.

Penso que ambas as contribuições desses autores são úteis, necessárias e complementares, porém penso que o problema não está na fala dessas jovens e de várias outras pessoas que têm o mesmo pensamento, o problema está no modo de pensar que se reflete no agir, pois “falamos o que o coração está cheio”. Não é o que você fala e sim o que está dentro de nós. A Bíblia nos ensina no Livro de Êxodo, capítulo 3, versículo 14 (Ex 3:14), que Moisés no auge dos seus 80 anos, foi rejeitado pelo seu povo quando foi chamado por Deus a ser seu líder na Terra. A grande lição que devemos tirar dessa passagem é que se Deus te chama para trabalhar em sua seara é porque ele te sustentará. Portanto, pare de olhar para as suas limitações, seja a idade ou outro qualquer dificuldade que tentarem te impor e lembre-se da expressão de um autor desconhecido: “Deus não escolhe os capacitados, capacita os escolhidos. Fazer ou não fazer algo só depende de nossa vontade e perseverança.”

Por fim, em minha experiência de educadora e mediadora de conflitos em contexto educacional encaro esse episódio como uma oportunidade de trazer luz à importância da cultura da paz em um mundo cada vez mais diverso e com necessária compreensão e respeito. Ainda que essas jovens adultas não tiveram a oportunidade de ser educadas por seus familiares em um lar com valores firmes e inegociáveis, a Universidade deve promover debates cada vez mais oportunos à luz da Mediação de Conflitos, além de capacitar os profissionais com as técnicas que cada vez mais pacificam os conflitos com grande chance de manutenção dos comportamentos esperados a longo prazo.